Rada x Petwo x Ghede

Primeiramente, é importante dizer que no Vodu de Nova Orleans, os termos Rada e Petwo não são usados enão há relatos de que isso tenha ocorrido algum dia. São termos mais comuns na expressão vodu haitiana e dominicana. Eu emprego essa divisão não só por minhas influências dominicanas, mas também por comodidade.

 

Principalmente pela influência cristã, as pessoas se preocupam muito com a questão de bem e mal. Mas nas religiões pagãs (ou nas que possuem claras raízes pagãs), a questão de bem e mal é muito vaga e difícil de ser percebida. Os deuses possuem, naturalmente, um temperamento. Este temperamento pode ser visto simbolicamente através dos elementos água, terra, fogo e ar. Por isso que muitos não-voduístas pensam que os Radas são bons e os Petwos são maus, o que NÃO É VERDADE. Os Radas são do elemento Água ou Ar, são bons, trazem paz e alegria mas, se for necessário, eles matam sem piedade, torturam, enlouquecem e comem suas entranhas. Por outro lado, os Petwos são vistos como os cruéis, vingativos, pertencem ao elemento Fogo ou Terra (Terra é mais comum aos espíritos indígenas ou aos Nagos, que são divididos em Terra e Água, mas estou tentando simplificar ao máximo a explicação) e estão mais próximos de nós humanos do que estão os Radas. Mas os Petwos nos ajudam, nos curam, nos salvam de problemas, nos dão empregos, amores e alegrias. Por isso é importante não generalizar nossos deuses pela pobre ótica cristã onde tudo se resume ao bem e mal. O Vodu nos ensina que o bem e o mal estão dentro de todo ser existente, são lados de uma mesma moeda e não energias opostas que se chocam.

 

A maioria dos povos Fon e Ewe da África que desembarcaram nas Américas saíram de um dos portos de Arara (ou Allada em alguns dialetos), situado no atual Benin. Com o tempo, os deuses que este povo trouxe com eles ficaram conhecidos como Loa Rada. São os mais conhecidos e cultuados. Muitos voduístas dizem que as Loas Rada trabalham mais devagar do que outros espíritos, e são mais tranquilas. Realmente, os Radas não são tão rápidos quanto aos ígneos Petwo e estão mais "distantes" dos humanos do que, por exemplo, os espíritos da terra, os Ghedes. Mas é justamente esse desprendimento dos Rada em relação ao mundano que lhes dá uma posição de superioridade. Talvez suas ações demorem um pouco a surtir efeitos palpáveis, mas os resultados são inacreditáveis, a vida é transformada de dentro para fora, de uma forma ampla. Os Radas são muito mais fáceis de se aproximar, de se fazer ouvir e, se necessário for, de se conseguir o perdão. Para nós voduístas, os Radas nos dão uma sensação de frescor, paz, suavidade, elemento água ou ar. Mas não se engane, pois podem ser perigosamente fatais e vingativos. Quase todos os Radas têm sua variante quente e perigosa, então, NÃO ABUSE!

 

Alguns Radas são: Legba; Marassa; Loko e Ayizan; Danballah; Agwe e La Sirene; Ezili Freda e Zaka.

 

Já as Loas Petwo (também chamadas de Pethro ou Petro) costumam ser ferozes e devem ser abordadas com muita cautela. No entanto, a energia das Loas Petwo podem ser mais facilmente sentinda do que das Radas, por ser uma energia mais densa e mais próxima da realidade humana. Eu já ouvi muitos voduístas afirmarem que as Loas Petwo são muito mais fortes do que as Loas Rada. Na verdade,  elas possuem o mesmo poder, apenas trabalham de maneiras diferentes. Muitas vezes a sabedoria das Loas Radas e seu senso de julgamento e justiça não sejam muito bem compreendido por nossa ansiedade e ignorância humanas. As Loas Petwo são grandes aliadas, mas podem te queimar vivo se você não for cuidadoso. Os Petwo são patronos das sociedades secretas (como as sociedade Sanpwel, Bizango, Zobop), seja dentro do Haiti ou fora (Sociedades Secretas originalmente são do Haiti, mas há pouquíssimas "cópias" fora da ilha). Eles são vistos como muito poderosos, mas são exigentes e se ofendem com muita facilidade se não forem cultuados da forma adequada ou se sentirem incomodados por brincalhões que se atrevem a se aproximarem deles sem o devido cuidado cerimonial. Um iniciado conhece senhas e gestos secretos que servem para se comunicar de forma mais segura com os Petwo. Isso não significa que você não possa trabalhar e cultuar os Petwos, mas que deve ter o maior cuidado possível. Ao contrário dos Rada, os Petwo são, em sua maioria, espíritos de fogo, bravos, vingativos, sanguinários. Mas não se engane se você acha que servem apenas para a maldade, muito pelo contrário, os Petwos são ótimos conselheiros, curam doenças físicas e espirituais, trazem dinheiro, sorte e amor. Alguns são até engraçados e nos fazem rir muito... Os espíritos da nação Petwo são em sua maioria próprios do Haiti, da época das revoluções. Mas muitos são também de origem Congolesa e estão ligados à diferentes etnias e tribos.

 

Os Petwos mais seguros para se aproximar são: Kalfou; Ezili Danto; Bossou; Simbi; Gran Bwa e Jean Petwo.

 

Os Ghedes

 

Acima, falmaos resumidamente sobre as duas grandes NAÇÕES do Panteão vodu. Agora, vamos falar dos Ghedes, que não se encaixam na categoria de "nação". São comumente vistos como FAMÍLIA de Espíritos. Grosso modo, na ordem cerimonial, os cultos vodu começam com os Radas (Vida), passam pelos Petwo (os percalços da existência) e os rituais terminam com os Ghedes (a morte). Como e pretendo ser o mais simplista possível nas explicações, vou evitar os zigue-zagues históricos que envolvem os Ghedes, senão o artigo ficaria muito grande e poucos leriam. Os ghedes são os deuses da morte e os espíritos que uma vez foram vivos e morreram, quando foram esquecidos ou abandonados por sua família ainda viva, são adotados por Bawon Samedi e Manman Brigitte (lembrando que estou simplificando a explicação). Os Ghedes são debochados, engraçados, sexualizados e com um humor negro único. Tanto seus nomes quanto suas canções são bem explícitos e cheios de duplo sentido. A sexualização Ghede se dá como símbolo da vida, como se a vida continuasse após a morte, o sexo é vida. Além disso, o sexo é tabu, e ele é frequentemente usado (verbalmente e simbolicamente) pelos Ghedes como forma de enfrentar ou desafiar o sistema. Afinal de contas, eles podem falar o que quiserem, sem serem coagidos ou punidos por isso, pois já estão mortos mesmo. Junto dos principais e mais conhecidos Bawons (Samedi, Simitye e Lakwa) temos a parceira e mãe dos mortos, Manman Brigitte. Ela é uma extensão da deusa Brigid dos Celtas, e embora ainda seja vista muitas vezes como sendo ruiva e com sardas, na visão Vodu as Manmans Brigittes são a representação da primeira Mambo a morrer e ser enterrada em um novo cemitério, o que vai dar características negras à maioria das Brigittes, embora elas estejam todas ligadas à matriz, a Brigid Celta. Entre outras coisas, uma das principais funções de Manman Brigitte é julgar os espíritos dos mortos e também julgar os vivos.

 

OBS: tradicionalmente, não há uma ideia clara de reencarnação na crença Vodu. Mas disso vai depender de muitos fatores. No Vodu que eu pratico, sob a ótica pagã, a reencarnação é um fato aceito.

Vodu Brasil


 

 

Ogou
Vèvè de Ogou (Ogun)

É bom saber: Nos cultos

de Candomblé são

conhecidos os EBOS,

oferendas feitas aos

Orisas. No Vodú, o termo

correto é Wanga e possui

a mesma finalidade dos

EBOS.