O Ninho da Serpente

O Ninho da Serpente era um simples local na Dumaine St, Nova Orleans. Era uma garagem, dividida em uma loja na frente e um espaço de culto vodu dominicano, meio misturado com cabala, meio com gnosticismo pagão (nunca foi totalmente "tradicional"). A Mambo chefe dali foi Mama Wakenaton, um trocadilho inteligente com o faraó Akhenaton (historia para outro momento!). Atualmente, Mama Aveline está à frente do culto, e tem vivido mais no Canada com sua filha do que no templo. Com o templo sob o comando de Aveline, apenas sete pessoas, incluindo a Mambo, permaneceram na Fanmi. Entretanto, nunca foi uma Fanmi com muitos membros. Mas isso era algo muito positivo, ajudou a nos aproximar a todos, formamos uma pequena familia de fato. Eu conheci um Vodu muito simples, não tenho nenhuma grande história daquelas que as pessoas amam contar, mas tenho muitas grandes lembranças, que podem não significar muito para alguns, mas realmente significa muito pra mim.

Atualmente, o Ninho da Serpente está indo para o Canadá, e o meu continua sendo um pequeno local destinado às reuniões Vodu, ao aprendizado, ao oráculo e ao culto às Loas. Embora eu venha de um Vodu baseado na cultura dominicana "não tradicionalista" (eu teria muito a discorrer sobre isso!), a minha expressão Vodu é ainda menos tradicionalista. Digo isso porque, para a infelicidade dos meus superiores (mas já fui perdoado) eu aboli o cristianismo dentro do vodu praticado por minha fanmi. No início, não pensei que fosse abrir um buraco tão grande, e para não deixar essa lacuna, optei por preencher o espaço destacando ainda mais as Loas, dando a elas ainda mais importância do que já tinham, e tive que buscar resgatar cultos esquecidos no Vodu de Nova Orleans, que é uma prática em fragmentos. Hoje, olhando para trás, vejo que fui muito ousado em fazer tal coisa, quebrei todas as regras e passei por cima de toda a ética. Mas deu certo, estou feliz com o resultado e afirmo que tenho uma prática muito sólida e livre dos grilhões católicos.

Há alguns anos, eu estive à frente do Ounfò de mesmo nome, situado em São Paulo, Capital, mas um templo com um porte relativamente grande, acabou tomando muito mais tempo do que eu realmente tinha, já que o trabalho como psicólogo e professor consumia 18 horas das minhas 24 diárias. O Vodu não é uma religião muito aberta ao público, e temos que controlar rigidamente quem entra no templo. Essa é a nossa forma de evitar uma má interpretação.

E não é só isso, existe também um alto gasto para se manter um templo e, em épocas de crise brasileira, isso acaba se tornando um problema. O Vodu, muito diferente do Candomblé, é uma religião muito simplista, sem toda aquela "pompa" dos lindos Candomblés e muitas Umbandas. Não usamos grandes roupas e nossos Deuses também são relativamente simples. Na verdade, um templo Vodu costuma ser muito rústico. Apesar de tudo isso, os gastos são de acordo com o tamanho do templo, e não estou falando de apenas água e luz, mas sim da manutenção espiritual do templo, já que um templo grande exige outros pequenos templos, o que acaba esgotando o tempo e o dinheiro.

Meu grande problema realmente foi a administração do tempo, pois trabalho cerca de 18 horas por dia (rs!)

Foi, então, que eu decidi manter um pequeno espaço para o culto aos Deuses, para continuar com a religião que eu amo. Isso, pelo menos até terminar meu mestrado e conseguir consolidar minha vida pessoal.


Estamos situados no interior de São Paulo, uma cidade chamada São José do Rio Preto, 460km da Capital. É uma cidade que, para ser muito sincero, não me agrada nem um pouco, pois o calor daqui chega à 41° e eu simplesmente odeio calor. Mas por outro lado, o contato com a natureza é infinitamente maior em comparação a São Paulo (cidade que eu amo!), e esse contato é primordial dentro do Vodu, afinal, é onde nossos Deuses vivem.


Tendo tudo isso em vista, toda a simplicidade e as coisas tão rústicas, comuns ao Vodu, mesmo sendo a ‘tradição” de Nova Orleans/Dominicana - a que eu sigo -, o Vodu ainda não deixa de ser extremamente complexo em seu culto, exigente em relação a quem quer seguir e um caminho longo, não recomendado aos anciosos.

Quanto à influência católica, eu nunca gostei, desde quando comecei no Vodu (um simples curioso, em 1998) nunca aceitei essa coisa de fazer reza dos cristãos. Sofri muito por causa disso, acabei entrando numa verdadeira guerra com outros Houngans e Mambos. Perdi muitos "amigos", assim mesmo, entre aspas. Mas não perdi aquilo em que acredito, defendi (e defendo) meu ponto de vista, não importa quantas Wangas terei de superar.

Eu entendo e respeito os fatos históricos que levaram os voduístas a usarem o catolicismo como um meio de fazer o Vodu sobreviver. Mas não posso continuar com isso nos já muito passados anos 2000, é absurdo! Já quebramos os grilhões cristãos, somos livres e devemos professar nossa fé tal como ela é. Lembrando que esse é o ponto de Vista do Ninho da Serpente, portanto, meu próprio, e eu não represento todos os voduístas.

Vodu Brasil


 

 

Ogou
Vèvè de Ogou (Ogun)

É bom saber: Nos cultos

de Candomblé são

conhecidos os EBOS,

oferendas feitas aos

Orisas. No Vodú, o termo

correto é Wanga e possui

a mesma finalidade dos

EBOS.