Gédé

Altar Ghede, com suas oferendas e bebidas fortes.
Altar Ghede, com suas oferendas e bebidas fortes.

Entre todos os espíritos servidos no Vodu, os Ghedes são os mais queridos e interessantes, engraçados e cheios de tracejos humanos, são um verdadeiro deboche à nossa existência, no bom sentido. resumir em poucas linhas toda a riqueza e complexidade dos Ghedes chega a ser um pecado. A nação Ghede representa a morte, mas estão também relacionados (por extensão) à vida, à cura (ou causa) de doenças e ao sexo. Eu gosto muito dos Ghedes, pois são conhecidos por sua ousadia, são mestres em quebrar as regras e enfrentar o sistema, eles gostam de chocar, quebram todos os tabus. Listar todos os Ghedes é humanamente impossível, já que eles "nascem" aos milhares no reino de Bawon todos os dias.

 

Bawon Samedi é o rei de todos os Ghedes, sendo ele também um Ghede. Dependendo da linhagem Vodu, como a Dominicana, por exemplo, o chefe dos Ghedes é Baron del Cementerio (Barão do Cemitério). Barão Samedi (ou Baron del Cementerio) tem sua rainha, Manman Brigitte, uma bela mulher branca, com sardas, olhos verdes, cabelos ruivos e com uma vestimenta gótica, mas toda envelhecida pelo tempo. Considerando Bawon Samedi como o chefe supremo, divide seu reino com seus "irmãos" Bawon Simityè e Bawon Lakwa. Enquanto Samedi (Sábado) representa todo o cemitério e tudo o que está nele, como um reino completo, seus "irmãos" possuem regência bem específica. Bawon Simityè (Barão do Cemitério) é o dono de todo o terreno, isto é, a terra que do cemitério, o terreno no qual ele foi feito. Tuda a terra dentro do perímetro do cemitério pertence à Bawon Simityè. A tumbas, mausoléus ou sepulturas pertencem a Bawon Lakwa (Barão da Cruz), e em alguns locais, seu domínio pode ir um pouco além, sendo ele o dono dos ossos dos mortos ali enterrados (não é uma regra).

 

Todo cemitério tem seu Bawon Samedi, Simityè e Lakwa. O primeiro homem iniciado no Vodu a ser enterrado em um cemitério se tornará um Bawon Samedi, e a primeira mulher nas mesmas condições será uma Manman Brigitte, isso em uma afirmativa mais tradicionalista. Em uma visão mais ampla, e principalmente fora das regiões onde o vodu é uma religião comum, podemos estender o significado para o primeiro homem e primeira mulher a serem enterrados serão Samedi e Brigitte ou, se achar mais conveniente, o primeiro homem ou mulher médium, com fortes laços espirituais, a serem ali enterrados, serãoos Ghedes Chefes. Grosso modo, os Bawons funcionam como Juízes e também como Grão Mestres. Samedi e Brigitte cuidam dos outros Ghedes como verdadeiros pais. Nem mesmo os Houngans e Mambos possuem muito controle sobre os Ghedes, mas Samedi e Brigitte conseguem frear as atitudes deles.

 

Em uma visão mais arcana, longe dos sincretismos populares, podemos dizer que Cada Bawon encapsula uma ideia ou verdade teúrgica relativa à morte. Simitye (Cemitério) por conta própria não é uma Loa, mas sim um conceito representado pela Loa conhecida como Bawon Simitye. Simitye é, na verdade, o lugar onde moram os ossos da morte ancestral. É o lugar das raízes, o ponto em que a vida e a morte se esbarram. Imagine Simitye como uma gigantesca energia de paz e reflexão que paira nos cemitérios. Bawon LaCroix (Lakwa, a cruz, o símbolo físico de duas coisas que se cruzam, como a vida e a morte) é o lugar de descanso físico, a "cruz" – encruzilhada – através da qual todos os recentes mortos devem passar da vida anterior para a próxima. Lakwa é a energia que fica nas tumbas, dentro dos caixões, que ajuda a decompor os corpos. Bawon Samedi é o superintendente, o grande escavador que reside dentro dos portões do cemitério, os ossos dos mortos e a terra que segura os mortos dentro dele. Então, entendemos aqui que Samedi é tudo o que se encontra dentro do perímetro de um cemitério, de uma simples pedra aos ossos de cada cadáver ali enterrado. Os Ghedes, de uma forma geral, são os ceifadores da crença Vodu, independente da causa mortis, todos terminamos no abraço dos Ghedes, nossa futura nova família.

Vodu Brasil


 

 

Ogou
Vèvè de Ogou (Ogun)

É bom saber: Nos cultos

de Candomblé são

conhecidos os EBOS,

oferendas feitas aos

Orisas. No Vodú, o termo

correto é Wanga e possui

a mesma finalidade dos

EBOS.